Talvez
devesse ser intitulado “Sobre o charme que nunca soube fazer”, mas como não sou
boa em nomear, intitular qualquer coisa, esse deve servir. Há dias esse texto
me persegue, me incomoda num pedido quase que desesperado para nascer... Até achei
que nasceria em forma de poesia, a poesia deixa as coisas mais “levinhas”
algumas vezes e nos esconde por meio do ‘eu lírico’... Mas, foi assim que ele
quis nascer, desse jeito mais escancarado mesmo. E ao som de ‘Doublé de Corpo’
na voz de Leoni, com um céu carregado de nuvens, um ventinho frio e um coração
sempre inquieto ei-lo aqui.
Quem
lembra das paqueras de adolescência? Daquelas meninas consideradas “mais
bonitas” da escola que se valiam disso para usar e abusar dos pobres garotos
apaixonados e/ou atraídos por elas... ? Bom, eu não era uma das garotas, meu
perfil era outro (ok gente sem drama tá? rsrs). No entanto, é a partir dessas
garotas que me vem várias reflexões sobre aquele papo de “o ser humano quer o
que não pode ter”... (Esse seria um bom título também, né? Rsrs...). É uma
reflexão muito densa, e apesar da tentativa talvez eu não consiga descrever bem
minhas opiniões a respeito, mas é uma daquelas coisas que a gente nunca entende
muito bem, sabe?! E mesmo quando passa a fase da adolescência, o que se nota é
que algumas pessoas continuam fazendo ‘charminho’ para manipular o outro de
algum modo. Às vezes essa forma de fazer charme muda, porém a intenção continua
sendo a mesma. E eu francamente nunca consegui entender muito bem o sentido
desses joguinhos idiotas.
Foto arquivo pessoal
Certa
vez uma amiga me disse “- Não atende o telefone, deixe ele sentir sua falta. Pessoas
gostam do que não têm”. Acredito que não seja uma frase incomum, mas sempre me
inquietou muito essa necessidade de esconder o que se sente, de se mostrar
mascarado escondendo o que verdadeiramente somos, mesmo que isso não seja o
ideal de alguém.
E
nessa mania boba (talvez) de refletir sobre essas coisas e de a todo custo
tentar fugir desse desdém imbecil humano, me tornei um pouco o que sou hoje:
alguém que necessita ser e conviver com o outro numa perspectiva de humanidade.
De defeitos e qualidades. Preciso sentir-me gente, e sentir-me amada mesmo assim
sendo.
Não
nego que já sucumbi a joguinhos sim em algum momento da minha vida, mas a
sensação posterior foi tão repugnante que
me senti a pior das atrizes no palco da vida. Nessa hora, pude comprovar que
não vale a pena viver sem ser o que se é. E ser quem você é, não é ter ‘síndrome
de Gabriela’, é entender que mudar é preciso, mas isso tem que ser uma decisão
sua e somente sua.
Sigo
tentando a compreensão e o amor dos que cercam mesmo sem saber fazer charminho,
sem saber fingir que não quero. Sigo atendendo os telefonemas que desejo, ou
não atendendo os que não. Sigo chorando e tocando em feridas nos momentos mais
inapropriados. Sigo demonstrando efusivamente meu amor, e não me preocupo se
deixo o ‘outro’ muito seguro com isso. Sigo acreditando que se não puder amar
intensa e plenamente não valerá a pena essa existência.
E
aos covardes e amantes dos charminhos, meu lamento. Porque vocês realmente não
podem me entender.
Julie Oliveira
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